A Mais Mu não é um unicórnio. Não fizemos um IPO nem uma captação digna de sair no Brazil Journal.
Mas estamos vivos e crescendo quase 100% a.a. todo ano, desde 2015.
Tudo isso com sócios fundadores que começaram do zero real.
Eu mesmo nunca tinha trabalhado antes. Não era nenhum especialista nesse mercado. Nem nunca tinha tido a experiência de montar (ou quebrar) uma empresa antes. Na real, era só mais um estudante de faculdade.
Sinceramente, não da pra reclamar… Ter dado certo assim de 1ª é muito bom.
Tudo isso me transformou em um romantico promotor do empreendedorismo.
Eu vejo empreendedorismo como uma forma de se expressar, de ganhar a vida, de crescer, de conhecer gente, de mudar o mundo. E não é balela não. Eu realmente vejo o mundo por essa lente.
Mas, nas últimas semanas, algumas coisas mudaram pra mim.
Como eu comentei lá em cima, o sucesso da Mais Mu vem de uma série de fatores. Alguns são internos. Outros, externos. Um grande fator é a sorte.
Mas, tem um pequeno fator que faz toda a diferença. Uma forma de ver o mundo como um lugar de oportunidade e protagonismo. Eu chamo quem vê o mundo desse jeito de inocente corajoso.
A turma do 3G já falou sobre isso. Em um trecho de Sonho Grande, a turma do Lemman diz que se tivessem sentado pra fazer conta e ponderar todos os riscos, jamais teriam feito a fusão da Antarctica com a Brahma e criado a AmBev. O Jobs sintetiza o que é ser um inocente corajoso com sua frase “stay hungry, stay foolish”.
Dentre os diversos fatores responsáveis pela Mais Mu estar dando certo, ter um time empreendedor inocente corajoso com certeza é um deles.
Mas, a vida me trouxe uma lição importante recentemente.
Ser um inocente corajoso é necessário para você ser um bom empreendedor. É necessário ser ingênuo para achar que o impossível é possível e corajoso para dar a cara à tapa e fazer acontecer. Mas, embora necessário, ser um inocente corajoso não é suficiente para ser um bom empreendedor.
Eu aprendi mais sobre isso na pandemia.
No começo de 2020 eu, no auge do meu romantismo empreendedor, fiz de tudo pra começar um projeto com educação. Pra isso, trouxe alguns amigos pro barco. Eu seria um dos “cabeça” do projeto (afinal, tinha tirado a Mais Mu do zero e a ajudado a ser uma empresa que fatura dezenas de milhões no ano). Um deles estaria no dia a dia do projeto, focado em fazer acontecer.
Depois de muito bate cabeça, decidimos criar a booklub. Uma plataforma de livros focada na leitura em comunidade. Por mais de um ano eu fui o tutor de uma comunidade de leitores da booklub focada em negócios. Juntos, lemos e discutimos mais de 12 livros sobre o tema. Foram mais de 50 encontros, uma experiência rica como poucas.
Mas apesar de ser um poço de aprendizado, a booklub não engrenou como negócio. Saia mais dinheiro que entrava. A gente arrumava um problema, vinham dois.
No limite, ficou insustentável.
Em Abril de 2022 a booklub entrou em coma. E a previsão é que ela não passe do final do ano.
Foi uma grande experiência.
De um lado, aprendi muito com os livros. Aprendi mais ainda com a comunidade que, por mais de um ano, se juntava toda terça a noite para discutir os livros. Fiz bons amigos nesse período.
De outro, revisei tudo o que eu sabia (e achava que sabia sobre empreendedorismo).
Tive uma lição de humildade que ter dado certo de 1ª com a Mais Mu nunca tinha me ensinado.
Aprendi que, no limite, ser um inocente corajoso não garante o sucesso do empreendedor (por mais que o sucesso de 1ª tenha me dito que na 2ª ia ser mais fácil).
Ser um inocente corajoso garante, apenas, que você seja um apreendedor. Uma pessoa que ao tentar empreender, acaba aprendendo na dor.