mini IPO
Eu comecei a investir na bolsa com mais ou menos 15 anos de idade.
Não me considero um prodígio por isso. Eu só tava seguindo os passos do meu irmão mais velho que, com seus 20 e poucos anos, tinha aberto uma conta na corretora da cidade.
Apesar de fazer isso há quase 15 anos (tenho 29 anos hoje), eu ainda me tenho muito pra aprender. Inclusive, ter estudado administração de empresas em uma das mais renomadas escolas de negócios do Brasil me ensinou ridiculamente pouco sobre investimentos (e eu era um aluno dedicado e interessado na matéria).
Não foi o tempo de investimento que me salvou da ignorância. Nem as aulas de finanças da faculdade. Na verdade, o que mais me ajudou a entender sobre investimentos tem sido empreender e estudar sobre negócios (a experiência de passar por umas crises também ajudaram muito, mas não seriam nada sem a experiência empreendedora ou os livros).
De todos os livros que eu li sobre isso, o meu favorito é “One Up on Wall Street”, do Peter Lynch. Em português o livro se chama “O Jeito Peter Lynch de Investir”.
Ainda que eu tenha lido esse livro há mais de 5 anos, algumas ideias ficaram firmes na minha cabeça (e, mais importante, essas ideias se transformaram em comportamentos).
A ideia principal é: o investidor pessoa física tem algumas vantagens competitivas significativas contra grandes fundos ou grandes investidores.
Oi?
Sim. E ele tocava um fundo gigante nos EUA.
Mas porque ele fala isso?
O investidor pessoa física não precisa reportar pra ninguém.
É possível investir em empresas que são pequenas demais pros fundos.
Maior conexão com o “mundo real” que um investidor.
Vou tratar cada um desses pontos aqui.
1. O investidor pessoa física não precisa reportar pra ninguém.
O efeito disso é brutal. Imagine que você é um gestor e quer apostar em uma empresa pequena e de alto crescimento. O que acontece se você acerta? Nada muito relevante. Um tapinha nas costas. Talvez uma promoção.
Mas é se você erra? Você vai ser visto como imprudente. No limite, burro.
Mas eu posso errar mesmo com uma empresa grande de menor crescimento… Sim. Verdade. Mas aí você tá blindado.
É ok errar apostando no Real Madrid pro campeonato mundial. Mas não é ok errar apostando no Criciúma nesse mesmo campeonato, entende?
Quando você responde pros outros, o medo de errar e ser visto como idiota é grande. E pode custar grandes oportunidades. Por isso, saber o que tá fazendo (isso não é negociável) e não precisar dar satisfação é uma vantagem competitiva do pequeno investidor.
2. É possível investir em empresas que são pequenas demais pros fundos.
Você tem 50 bilhões de reais pra investir. Qualquer investimento de menos que 1 bilhão é pequeno demais pra você. Fora toda a burocracia e o risco de ser mal interpretado que citei acima.
Agora, se você não tem 50 bilhões de reais pra investir (o que não tem tantos pontos positivos além desse que trago aqui), você pode investir em empresas pequenas (small caps), além de poder colocar cheques menores.
Algumas empresas nessa situação ainda tem uma rota de crescimento mais clara que as grandes e consolidadas corporações (é mais fácil transformar 1 real em 2 do que 1 bilhão em 2).
E, bom, o investidor pessoa física pode aproveitar isso. Mas tem um problema. Não temos tantas empresas pequenas na bolsa como nos EUA.
3. Maior conexão com o “mundo real” que um investidor.
Uma terceira vantagem é que a pessoa física as vezes conhece a empresa através do produto, como cliente. Isso da uma visão muito boa do negócio. Às vezes muito melhor que relatórios frios analisados por alguns investidores.
Imagine que a loja que você vê crescer e crescer no interior tem uma porta aberta pra investimentos (ações na bolsa) e que você vê isso muito antes da faria lima. Bom, né?
Ou que uma celebridade digital que você segue lança uma marca e você, seguidor, sabe avaliar o potencial do negócio melhor que ninguém.
No final, isso também funciona melhor nos EUA que aqui.
O mercado é mais maduro. Empresas menores abrem capital. Investidores pf são mais educados…
Mas isso tá mudando. E não é pouco.
Que os investidores pessoa física tão cada vez mais sofisticados não é novidade. As casas de análise, os influenciadores, as corretoras, todos tem criado um ecossistema muito mais favorável à educação financeira do que aquele que eu vivi com 15 anos. Hoje temos pessoas como o Felipe Molero e o Breno Perrucho ajudando jovens a investir e fazer negócios.
Mas, apesar da bolsa ter feito IPO de empresas menores nos últimos tempos, como enjoei e get ninjas, eu acredito que o acesso não tá ali. Pra mim, esse acesso tá nas “novas bolsas” que tão se formando.
Novas bolsas.
Em 2019 a Mais Mu fez um mini IPO. Levantamos quase 3 milhões de reais através de uma rodada de investimento anjo pública e digital. O nome disso é equity crowdfunding.
Clientes, funcionários, fornecedores, amigos, admiradores da marca e investidores diferentões tiveram a chance de investir na Mais Mu.
O cheque mínimo era de 2 mil reais. No final, foram mais de 250 pessoas nos apoiando. Pessoas que hoje tem quase 10% da Mais Mu.
Na época a gente vendia 11 milhões ano. Esse ano devemos vender 50 milhões de reais em produtos.
Lembra dos pontos que falei lá atrás? Não ter que reportar, poder fazer cheques baixos e ter proximidade com o negócio? Pois é. O que é mais raro na bolsa se tornou possível com os mini IPOs do equity crowdfunding.
Massss
Nem tudo são flores. Aqui as empresas não são auditadas pro grandes consultorias, não existe um mercado secundário, apenas empresas pequenas podem captar e, por fim, o limite de captação é baixo.
Ah, e o modelo tinha pouco histórico.
Massss (2)
Tudo isso tá mudando muito.
Com a nova lei que regulamenta isso (você pode saber mais sobre isso aqui). Empresas médias agora podem captar assim (o limite de faturamento anual passou de 10 para 40 milhões de reais). O total que pode ser captado pela empresa também mudou muito.
Vender sua participação, que era um grande porém, também tá mudando. Ao contrário da bolsa, onde vc vende “quando quiser”, se desfazer de investimentos no crowd não era um processo tão fluido.
No limite, o mercado tem ficado mais interessante pra quem gosta de negócios. O mundo que Peter Lynch falava, onde os investidores pessoa física tinham vantagens era um sonho pro brasileiro e uma realidade pro norte americado. Bom, parece que agora as coisas mudam um pouco.
Como dizem, tão deixando a gente sonhar.
vaMU junto,