não basta dizer não
Eu e a Belle estamos saindo do nosso apartamento aqui em SP e indo pra um em São Caetano. Se você já se mudou antes deve saber o quão estressante é tudo isso.
Também estamos comprando nosso primeiro carro, o que traz algumas surpresas, como o burocrático processo de pagamento de consórcio do Bradesco.
Além dessas questões pessoais, tenho buscado opções para financiar o crescimento da Mais Mu, o que não tem sido tarefa fácil com o mercado do jeito que está.
Quando somo tudo isso às várias outras tarefas do dia a dia o resultado é claro: tem muita coisa no prato. Não dá pra fazer tudo.
Nesse cenário, falar não vai além de ser uma questão de prioridades, é uma questão de sobrevivência.
E dizer não, por mais importante que seja, é meio chato... Além de decepcionar o outro, às vezes você tem que conviver com aquela pulga atrás da orelha “e se aquele “não” fosse uma grande oportunidade”?
No final das contas, dizer não é a essência da priorização. Ou, como diria David Allen, o maior trabalho de todos é decidir qual trabalho a ser feito.
O resultado desse prato super cheio tem sido dias bem erráticos por aqui. E isso tem me feito refletir sobre a suficiência do dizer não como solução pro problema de excesso de tarefas.
Explico.
Tem dias que consigo usar o espaço que conquistei falando não para fazer aquilo que realmente importa. É ótimo quando isso acontece.
Por outro lado, tem dias (e não são poucos) que parece que eu troquei seis por meia dúzia. O espaço que abri com um não virou um momento de ansiedade, tédio e culpa ao invés do momento de foco planejado. É horrível quando isso acontece.
Não sei se você já passou por algo parecido ou se tudo isso é consequência de ter aumentado o intervalo das minhas sessões de terapia.
Como disse, me parece que tem um problema nessa ideia de que basta falar não para algo de baixa importância para poder focar nas prioridades.
E, enquanto escrevo, fiquei pensando no porquê isso acontece. Talvez parte da resposta esteja na nossa inquietação.
A gente ouve muito sobre a relação da disciplina e resiliência com o sucesso. “Quer ter sucesso? Trabalhe enquanto eles dormem”
O que a gente ouve menos é a importância da paciência para que o foco necessário para termos resultado realmente aconteça.
Pensa nisso: sem paciência a gente começa a correr enquanto a poeira ainda não baixou. O resultado disso é só mais esforço, não mais resultado. Isso é improdutivo e, no limite, frustrante.
Até porque o único motivo de você passar pelo desconforto de dizer não seria gastar seu tempo com algo que valesse a pena, não fazer qualquer coisa como resposta à ansiedade, tédio ou culpa…
Dito tudo isso, hoje eu acordei transbordando de ansiedade. Por sorte eu me deparei com um vídeo que parecia interessante. Era uma conversa do Benchimol com o Ricardo Amorim (tá aqui o link). Parte de mim tinha percebido que a poeira ainda não tinha baixado então era melhor esperar um pouco vendo um bom vídeo antes de sair fazendo qualquer coisa para compensar a ansiedade.
Nesse vídeo, eles comentam sobre como o contato com a natureza nos deixa mais conscientes da nossa insignificância e pequenice. Isso, por consequência, nos traz pro presente.
Uma coisa completamente oposta acontece numa cidade como São Paulo. Na cidade grande a gente olha pro lado e vê um ambiente competitivo e acelerado. Como consequência, a gente troca o nosso estado presente por um medo constante de ficar pra trás.
Desse medo de ficar pra trás, vem a ansiedade, a culpa e até a nossa incapacidade de lidar com o tédio.
Não acho que o segredo esteja em ir pro campo, embora isso possa ajudar de tempo em tempos. O segredo para a paz durante um período de excesso de demanda, de muita coisa no prato, também não é apenas dizer não.
O segredo, nesses casos, parece ser combinar o dizer não com paciência e a capacidade de estar presente no momento. Assim, talvez, a gente consiga separar o sim e não de maneira efetiva, não apenas trocar o excesso pela ansiedade, culpa ou tédio.
Acho que foi bom escrever isso. Nada disso tava claro…
Talvez agora, nesse momento onde tá tudo muito nebuloso e a poeira ainda não baixou, eu consiga esperar pra fazer o que importa antes de sair fazendo qualquer coisa.
vaMU junto