sangue
Recentemente li uma frase no instagram do @tioricco que me marcou.
Eu não achei a referência certinha, mas é mais ou menos assim:
Se você quiser chegar ao topo, tenha sangue nos olhos.
Se quiser se manter no topo, tenha sangue nas mãos.
Essa frase me irritou, achei ela absurda.
Você não precisa ter sangue nas mãos pra ter sucesso, pensei.
Mas, como dizem: se uma frase te agrada, procure a mentira nela. Se ela te irrita, procure a verdade nela.
Eu demorei, mas acho que encontrei a verdade nisso. E queria compartilhar um pouco do que vi.
Mas antes, queria reforçar o proposito desses textos. Eu escrevo coisas que gostaria de ter lido antes. Esse é, talvez, o texto que mais cumpre esse objetivo. Se você puder, compartilhe com quem também precisa dessa reflexão.
Vamos lá.
1. Se você quiser chegar ao topo, tenha sangue nos olhos.
É muito improvável (tipo ganhar na mega-sena de improvável) que você chegue ao topo de qualquer lugar sem ambição.
Só não acontece.
Isso porque a ambição, o tipo de combustível que é necessário para você voar alto, é rara e valiosa. Uns o encontram na família ou no primeiro filho. Outros encontram em uma paixão profissional. Outros, em uma vontade insaciável de mudar o mundo.
Qualquer que seja o motivo, o combustível da ambição é raro porque nem todos o têm. E valioso porque ele nos leva mais longe.
Mas essa é a parte da frase que não incomoda…
2. Se quiser se manter no topo, tenha sangue nas mãos.
Dói ler isso.
Eu sou otimista com o mundo. Alguns diriam que esse otimismo beira o romântico.
Eu acredito visceralmente que todos podem conquistar aquilo que desejam. Ainda, acho que todo mundo quer crescer na vida. Pra fechar, não bastasse eu acreditar que todos podem e querem crescer, eu ainda acho que, com o tempo, todos conseguem.
Mas a realidade é mais dura do que a minha visão de mundo (pelo menos é isso que os encontros com a realidade têm me provado). Poder, querer e conseguir são irmãos brigados e que muitas vezes nem se falam.
À 1ª vista, essa ideia de sangue nas mãos ser necessário pro sucesso foi um ataque à essa minha crença central e otimista do mundo.
Mas depois de absorver o impacto e procurar a verdade da frase, percebi que ela não só é uma afronta à minha visão (claramente turva) da realidade…
Ela é uma dose amarga de sabedoria.
Ter sangue nas mãos é necessário para “se manter no topo”. Mas esse topo não é, necessariamente, o topo da sociedade. É o topo do seu eu.
É o topo da sua versão de si mesmo.
Se você quiser se manter no topo, vai precisar fazer o que precisa ser feito ao invés de fazer o que você quer fazer. E isso significa ter coragem de ter sangue nas mãos ao lutar contra seus inimigos (leia o seu ego).
Isso que eu escrevi é muito, muito importante.
O tal do sangue nas mãos não é o sangue nas mãos de um bandido que tira uma vida. É mais o sangue nas mãos de um médico que, ao fazer uma cirurgia para salvar o corpo, corta e machuca seus tecidos.
Saindo das metáforas, um caso prático.
Recentemente eu tomei uma das decisões mais difíceis da minha vida: fizemos mais demissões em um mês do que costumamos fazer em um ano.
Ainda não sei se é uma boa falar disso aqui, mas acho que vale o risco de ser mal interpretado pra te trazer um texto mais sincero e rico.
Não fizemos as demissões porque as contas estavam apertadas.
Nem porque essas pessoas mentiram.
Fizemos essas demissões porque simplesmente não fazia mais sentido mantê-las ali. Por elas e por nós.
Por muito tempo, eu neguei isso. Eu neguei porque confio nas pessoas e nas suas intenções (lembra do Otto romântico? Então, tá ai).
Mas eu também neguei isso porque eu tinha medo de que essas pessoas ficassem bravas e frustradas comigo.
É fácil entender, mas difícil agir: segurar pessoas em um lugar que não as desenvolve e nem desenvolve o lugar é uma fórmula pro fracasso.
Mas a gente é um ser social. E arrumar esse tipo de problema, ou seja, colocar sua imagem em risco e fazer o que é melhor pro grupo, é manchar as suas mãos de sangue.
E isso, no limite, é o que é preciso fazer para se manter no topo da guerra entre quem você é e quem você poderia ser.
não fique no raso
Meu medo é você, leitor, interpretar isso como uma carta branca para demissões, por exemplo.
Não é sobre isso. Esse seria a leitura rasa.
É sobre entender suas emoções ao enfrentar uma decisão e se perguntar: o que tá me prendendo?
To com medo de ser mal-visto ou essas pessoas realmente precisam de uma segunda chance?
To com medo de ser mal interpretado ou to sendo egoísta e não quero manchar minha imagem?
No limite, eu entendi que um dos principais papéis que eu tenho é garantir que quem tá no jogo quer, de fato, jogar. Alguns precisam descansar. Outros, ir pro banco. Alguns, sair do time.
Melhor, garantir que quem tá no jogo não apenas quer jogar, mas consegue jogar em equipe no longo prazo.
confiança
Uma coisa que sempre me segurou em decisões como essa foi a crença de que eu preciava ser digno da confiança do time.
Como posso manter a confiança do time se, de tempos em tempos, preciso desligar pessoas? Isso sempre me travou.
Por isso eu sempre dei muita chance quando as pessoas não correspondiam às expectativas do trabalho.
Mas o que eu vou passar aqui agora tem mudado significativamente meu jeito de ver e lidar com o mundo.
A confiança que eu preciso não é de que o Otto é uma boa pessoa que se importa com os outros.
A confiança que eu preciso passar pro time é que o Otto vai fazer tudo o que precisa ser feito para garantir que o grupo prospere, mesmo que isso signifique sujar as suas mãos de sangue para que apenas os que querem jogar tenham espaço na arena.
O ponto central ainda é confiança. Mas não a confiança de que você é bom e não machuca ninguém, mas a confiança de que você é capaz de sacrificar o seu ego pelo bem do grupo.
No final das contas, o desconforto com a frase passou. A verdade por trás dela é que sangue nas mãos é realmente necessário para ficar no topo. Só não é o sangue nas mãos egoísta, mas o sangue nas mãos de um ego suicida que busca ser o melhor pro grupo e não o melhor do grupo.
vaMU junto,
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